09 março 2015

10 coisas que um músico não deve fazer na liturgia


Por Luis Felipe Barbedo

Virou uma febre nas redes sociais os textos em formato de listas. Parece ser uma metodologia bem didática e bastante apropriada para o rápido ambiente virtual. Resolvi então aderir à moda e exercitar essa maneira diferente de escrever aproveitando um tema bastante comum e que costuma gerar tantos problemas na nossa igreja. Não sou um especialista em liturgia, mas ao longo da minha caminhada, estudando, praticando e vendo outros grupos de música acho que aprendi pelo menos essas coisas…

1) Vestir-se inadequadamente

Palco é palco, altar é altar. É comum que um artista faça do seu próprio corpo uma extensão da sua expressão; no entanto, a liturgia não é um lugar de expressar sua individualidade a ponto de roubar a atenção do principal: o mistério que está sendo celebrado no altar. Atualmente as equipes de música vêm ocupando lugares no templo bastante destacados (ao contrário de quando escondiam-se nos “coros”), muitas vezes ao lado do altar. A preparação, portanto, deve começar quando você abre o seu armário e escolhe a sua roupa. Sobriedade e discrição são a norma.

2) Chegar em cima da hora

Tocar e cantar numa missa são responsabilidades muito grandes e muita coisa pode dar errado: um cabo que resolve chiar assim que se liga, uma bateria do violão que precisa ser trocada, uma extensão de força que não está no armário como deveria estar (“quem foi que usou por último, hein??”). Sendo assim, os músicos devem chegar a tempo suficiente de deixar tudo perfeitamente preparado para quando a missa começar, para não ter que cometer o abuso de afinar o violão somente durante a primeira leitura.

3) Cantar e tocar sem ensaio

Se com ensaio a quantidade de erros que vemos numa celebração já é enorme quanto mais sem ensaiar… É bom que todo grupo de música tenha um repertório básico ensaiado para qualquer situação e que ensaie uma ou outra música específica para aquela celebração, seja por uma solicitação do celebrante, seja por uma exigência litúrgica.

4) Substituir os cantos do ordinário por outras músicas quaisquer

Momentos específicos da liturgia como o Ato Penitencial (Kyrie), Gloria, Santo (Sanctus) e o Cordeiro (Agnus Dei) são parte integrante da celebração. Da mesma forma que o padre não pode substituir a Oração Eucarística por uma outra oração qualquer, se esses momentos da missa forem cantados, a letra deve respeitar as fórmulas prescritas pela Instrução Geral do Missal Romano. Essa inclusive é uma ótima oportunidade para estimular os compositores da paróquia a fazerem novas melodias para esses momentos.

5) Escolher as músicas sem ler as leituras do dia

A liturgia não é uma audição onde você escolhe as músicas que melhor se adequam à sua voz ou a que o guitarrista tirou o solo “igualzinho ao do CD”. As músicas devem ser escolhidas de acordo com o que está sendo celebrado naquele dia, levando-se em conta as leituras do dia e o tempo litúrgico. Ao preparar-se para a liturgia, faça uma lectio divina com as passagens que serão lidas e somente a partir daí escolha as músicas do dia.

6) Fazer firulas vocais e instrumentais excessivas

Sim, você sabe cantar. Sim, as pessoas sabem disso. Sim, você não precisa sambar na cara da sociedade quando cantar aquela música que parece que foi feita para você. Você está lá para ajudar as pessoas a cantar, não para cantar no lugar delas. Há cantores que atrapalham mais do que ajudam quando cantam, usando divisões rítmicas diferentes, tons inadequados para a assembleia e que quando acabam só falta o povo levantar e aplaudir. Menos, queridos, menos.

7) Conversar durante a celebração

Na verdade, essa recomendação não se restringe somente aos músicos, mas a qualquer membro da assembleia e é uma questão de educação. No entanto, faço questão de colocá-la aqui porque há músicos que passam a missa inteira discutindo sobre o CD novo do artista X e o clip novo da cantora Y e não dão a mínima para a celebração. Isso quando não resolvem sair para bater papo durante a homilia… Sem comentários.

8) Fazer introduções e solos intermináveis

Não existe nada mais irritante na música litúrgica quando a música leva mais de um minuto para começar a cantar. Você NÃO PRECISA tocar exatamente igual ao que está no CD. Os arranjos de um CD são feitos com outras finalidades, nem sempre adequadas à liturgia. Portanto, ao iniciar uma música, pode mandar dois compassos no tom e na levada corretos e meta bronca!

9) Músicas desconhecidas

“Pô a banda X tem uma música linda que tem tudo a ver com o evangelho de hoje…” Sim, querido, mas eles vão cantá-la? Então sinto muito. Se você tiver tempo para ensinar as pessoas a cantarem a música antes da celebração, ótimo, se não, deixe-a para ouvir em casa na sua oração pessoal. As pessoas precisam participar da missa e não assistir a um espetáculo seu.

10) Não conhecer liturgia

Toda pessoa que se presta a qualquer serviço precisa ter um mínimo de formação na área. Se você não sabe fazer um lá menor no violão, você vai querer pegar para tocar na missa? Então por que você acha que pode tocar numa missa sem sequer saber do que se trata o que está acontecendo ali? Procure livros sobre o assunto, sites confiáveis, documentos da Igreja. Ao assumir um serviço para Deus você tem a obrigação de fazer bem feito e isso inclui conhecer em profundidade o mistério que está sendo celebrado e ao qual você diz servir.

02 março 2015

O ministério do animador do canto ou regente

Por Pe. José Carlos Sala

 A unidade das vozes do povo reunido em celebração e a dinâmica e fluência do canto dependem, em grande parte, do animador do canto ou do regente. “Convém que haja um cantor ou regente de coro para dirigir e sustentar o canto do povo. Mesmo não havendo um grupo de cantores, compete ao cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo” (IGMR 104; cf. MS 21). 

Trata-se de um ministério a serviço da unidade da assembleia que, através da condução/regência dos cantos contribui para um mergulho no mistério pascal celebrado e a consequente valorização da dimensão sacramental do canto da assembleia litúrgica: a unidade das vozes expressa a unidade da Igreja congregada no Espírito Santo que, sob a ação do mesmo Espírito entoa o “canto novo” diante do trono do Pai e do Cordeiro (cf. Ap 5,9).

 Este ministério, quando devidamente exercido, contribui para o diálogo entre Deus e seu povo porque “a celebração dos mistérios da fé é função de todo o povo de Deus e se processa num rico diálogo entre os ministros e a assembleia, e destes com Deus, e este diálogo tem no canto o seu momento mais expressivo” (A Música Litúrgica no Brasil, 247).

 Eis algumas características da pessoa que exerce este ministério: Estar engajado na vida de fé da comunidade, e desempenhar o serviço como resposta a um chamado de Deus; Cultivar uma profunda sensibilidade litúrgica e o gosto pela liturgia, o que lhe proporciona realizar o serviço com amor e dedicação; Ter percorrido uma caminhada de formação litúrgica a fim de compreender o que é próprio de cada rito e os ritmos próprios da celebração; Conhecer a função do canto e da música na liturgia e saber distinguir as partes que são próprias da assembleia das partes para solistas ou grupo de cantores; Ter alguma formação técnica em música para garantir boa qualidade na execução das músicas; Juntamente com a equipe de liturgia, colaborar na definição do repertório a ser cantado a partir de critérios litúrgicos, bíblicos, teológicos e estéticos.

 Algumas dicas para melhor desempenhar este ministério:

a) Mostrar-se sumamente respeitoso(a) com as pessoas, acolhendo-as com um semblante pascal inspirando-lhes confiança, serenidade e segurança;

b) Estar em um lugar visível, orientando a assembleia durante os cantos da celebração;

c) Manter a “atitude espiritual” (o gesto corporal, o sentido teológico-litúrgico do mesmo gesto e a dimensão afetiva devidamente integrados) ao longo de toda a ação litúrgica; Postura de quem está vivendo em inteireza o momento de oração, com naturalidade e simplicidade;

d) Ter as mãos livres e, se necessário, usar uma estante de apoio para o livro e/ou partituras;

e) Estar em sintonia com os diversos ministérios: presidência, leitores, salmista, instrumentistas, grupo de cantores, equipe de celebração e assembleia para colaborar na unidade de todo o corpo celebrativo;

f) Animar o canto da assembleia, de modo a fazê-la vibrar em uníssono ao cantar estribilhos e refrãos ou hinos, ao responder ou aclamar com prazer à proclamação das Escrituras, e ainda levá-la a sintonizar profundamente com a Oração Eucarística.

g) Cuidar para que o volume dos instrumentos musicais e dos microfones não se sobreponha ao canto da assembleia. Em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a dispersão, além de inibir a participação da assembleia no canto e tornar as celebrações demasiado barulhentas;

h) Não é conveniente cantar ao microfone todos os cantos da celebração. Durante os cantos que a assembleia conhece e participa ativamente de forma natural e espontânea, convém ao animador, como também ao grupo de cantores, que se afastem do microfone, aproximando-se um pouco mais nas partes em que a comunidade tem maior dificuldade em cantar. O canto litúrgico não é propriedade particular de um animador, regente, instrumentista, coral,... mas (Cf. CNBB, A música Litúrgica no Brasil, 247) pertence a toda a comunidade que celebra. O animador não está aí para “cantar na missa”, mas para fazer a comunidade participar ativamente da celebração;

i) Ensaiar as partes que cabem à assembleia, tais como: refrãos, aclamações, cantos do “ordinário da missa”, etc., antes do início de cada celebração.

j) Cuidar da dignidade da própria veste e da postura do corpo;

k) Reservar um momento de silêncio entre o breve ensaio e o início da celebração. Afinações de instrumentos e os testes de som são feitos antes da chegada dos fiéis para a celebração. Cada fiel que chega tem o direito de desfrutar de um momento de silêncio que lhe propicie fazer sua oração pessoal.

l) Quando é necessário, entoar um refrão meditativo antes da celebração para criar um clima m) Que os animadores do canto e regentes evitem certos “estrelismos”, postura de quem está fazendo um show ou de um “animador de auditório”, que transformam a celebração do mistério pascal em uma mera diversão religiosa. Tenho visto, com espanto, muitos animadores “roubarem a cena”, serem o centro das atenções, ofuscando o mistério e o próprio Cristo.

Em momentos de ensaios propriamente ditos, é bom observar o seguinte:
(Cf. CNBB, A música Litúrgica no Brasil, 248)

• Iniciar o ensaio com um refrão meditativo, de preferência com as referências Bíblicas do dia. Depois, pedir à assembleia que, enquanto se canta, ela acompanhe silenciosamente, escutando bem a melodia e lendo o texto, sobretudo quando se trata de um canto desconhecido;

• É mais adequado ensinar primeiro o refrão; depois, aos poucos, vão se introduzindo as estrofes. Não convém alongar-se demais no ensaio, tampouco ensaiar vários cantos novos a cada dia;

• É sempre bom escutar a assembleia sem os instrumentos musicais para confirmar seu aprendizado. Durante o ensaio, os instrumentos são muito discretos, apenas uma condução da linha melódica para facilitar a memorização do canto;

• Quando a comunidade já o estiver acompanhando, é hora de elogiá-la;

• Nunca se deve dizer que tal ou qual canto é difícil ou feio, já predispondo negativamente a assembleia;

• Quando oportuno, é bom fazer uma brevíssima introdução, antes de iniciar o ensaio de um canto, destacando o que há de mais importante em seu texto, a sua função litúrgica;

• Durante o canto, fazer gestos básicos de regência. Educar também a assembleia para os gestos de regência.

• A expressão facial deverá ser sempre alegre, incentivadora;

• Ter sempre em mente que a base para se cantar bem está na respiração e que uma das funções do(a) regente é ensinar a cantar e não se canta apenas com a boca, mas com todo o ser. 

Para Refletir:

• Em sua comunidade, há alguém que exerce o ministério de animador(a) ou regente)?

• Como acontece a unidade entre este(a) ministro(a) e a assembleia celebrante?

• Há comunhão entre os demais membros da equipe e o(a) animador(a) ou regente?

• Em sua comunidade e/ou Diocese, existem iniciativas de formação para os agentes de música litúrgica? Se não existe, o que podemos encaminhar para a formação litúrgico-musical dos agentes de canto e música litúrgica?